Para Deco. Para, Deco!

Ei menino do jeans rasgado
Cansei de ouvir os teus ais
O que tanto tem te perturbado?
Reclama de infortúnios e lástimas
Chega de suplícios e angústias
Você nem sabe o que são lágrimas

Menino, pare de dizer que é desafortunado
Desgraçado é aquele que não tem graça
E essa sua máscara me faz
Perder o ar de tanto gargalhar
Sofrimento é ser miserável
Prefere a felicidade da ignorância
Ou a ânsia de ser solitário
Pela busca incansável da verdade?

Jeans, levanta essa calça
Amarra esse cadarço 
Desse allstar esfarrapado
Você sofreu no máximo
Por uma ou duas paixões
O que é uma escavação no pulmão
Perto de lepra ou aids
Perto de um coração enclausurado
Libere-se de seus vícios
Deixe essa masturbação filosófica
Para que tanta rebeldia sem causa?

Você não é mais um menino
Costure esse jeans ou afrouxe o rasgo
Corte a barba balbo
Ou deixe o cabelo crescer
Indiferente. Contanto
Que comece a conceber seu feito
Pode escrever, perto de você
Seus antecessores eram leigos
E seus sucessores irão te bendizer

Do jeans rasgado,
O menino precisa se libertar
Ele não é um buraco escuro
A vagar sem fim
Mas uma estrela a brilhar
Mostre pra mim, pro mundo e
Para os meninos de jeans rasgado
Que você é um legítimo rock star

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Ele e eu

deus_eu

A descrição é inútil
Não ilustra
A cor do sol
Amarelo luzindo
Céu azul cintilando
O som das águas caindo
As gotas espirrando
O frescor ventando
O tom das pedras
Esculpindo o caminho

O retrato é estático
Não captura
A essência das flores
A beleza das borboletas
O bater de asas dos passarinhos
Dos mosquitos, das abelhas
A distância da cachoeira
Quilômetros percorridos
Nem os arranhões da natureza
E os obstáculos vencidos

A lente é fútil
Distorce o movimento
Em tudo há um motivo
Perfeito argumento
Equilíbrio
Seja zunindo, rastejando, caçando,
Construindo o ninho,
Soprando, assobiando, voando,
Esperando,
Ou seguindo

Ora água, ar
Ora árvore, terra
Ora mãe, pai
Ora energia, vida
Ora mutável, efêmera
Ora amigo, espírito
Ora eterno, infinito
Sempre comigo
Ele e eu
Deus

Oração

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Não mereço seu modo de agir
Por tudo o que vivi
Para justificar nada fiz
Por que comigo atuas assim?

Em tempo, ouças meu questionamento
Não faço jus a tal julgamento
Duvido que tenha direito
Porque faz essas coisas aos “sem merecimento”?

Acaso amas os ímpios?
E aos justos como presenteias?

Sou ovelha perdida
O pecado fiz e dele vim
Mas nunca desististes de mim
Por que comigo atuas assim?

Na escuridão cheia de dor
Estive em padecimento
Curaste-me com teu amor
Por que faz essas coisas aos “sem merecimento”?

Acaso amas os ímpios?
Pois estás sempre comigo
E aos justos como presenteias,
Pois me presenteias com anjos em meu caminho?

Agradeço por assim me amar
E por nunca desistir dessa tua filha
Pela graça de tuas dádivas
À tua palavra entrego a minha vida

Líria 19/set/15

Saudade daquela cidade

Essa eu fiz na minha infância em homenagem a cidade mineira Paraguaçu.

Saudade da Lua
Que iluminava aquela cidade
Saudade do queijo, da feijoada
Saudade da tia, do ferro de brasa

Saudade da água
Que jorrava do chafariz da praça
Saudade do sino da igreja
Que a toda hora tocava

Saudade das cores
Saudade do perfume das flores da praça
Saudade da criançada
Se enchendo de graça

Saudade da praça
Encontro de alegria, sedução
Onde nosso coração ficava
Aberto para qualquer sensação

Saudade da melodia que vinha do coreto
Saudade dos sonetos de alegria,
Esqueletos de músicas
Naquele ambiente sereno

Saudade do calor
Que quase não se suportava
Saudade do rio
Das ventadas no frio

Saudade das palavras que me faziam indecisa
Nos bailes da cidade
Na dança que me atraía feito um imã
E do som que me decidia

Saudade da rua
Par as crianças uma casa
Onde tudo era amizade e a tristeza era nula
E onde só se divertia e brincava

Saudade dessa mesma rua
Onde na madrugada os jovens voltam para suas casas
Saudade desses jovens
Que antes só bebiam água

Saudade do velho da casa
Da frente, mal assombrada.
Saudade dos seus gritos
Que eram motivos de risadas e arrepios

Saudade do sorvete
Que ainda tem o mesmo gosto
Saudade da senhora e suas alegres lágrimas
Que continuam a molhar o seu rosto

Saudade da terra
Que virava bolo na cozinha
Saudade da grama, das árvores.
Verdes e límpidas.

Saudade do grilo
Que à noite não nos deixava, do seu cri-cri
Saudade do milho, das frutas.
E das histórias de mula e saci

Saudade do violão
Que a noite toda tocava, da cantoria, da canção.
Saudade das vozes
Que cantavam músicas do coração

Saudade de ser querida
Saudade de lá
Saudade da minha vida
Naquela cidadezinha…

Líria

Estrela da manhã 

“É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela”. Friedrich Nietzsche
“Eu lhe darei a mesma autoridade que recebi de meu Pai. Também lhe darei a estrela da manhã” Apocalipse 2.28


A vida é árdua

A paz é improvável

O tempo é intransigente

O caminho é inexorável

O sofrimento é inerente

A luta é inquestionável

As escolhas são morosas

A fé é inevitável

O futuro é incerto

A felicidade é indubitável…

Líria.mai15

O mar e eu

“A vida sem lutar é  mar morto no centro do organismo universal.” Machado de Assis

A vida é como o mar…
Têm estágios de altos e baixos…
Há momentos de tempestade e momentos de calmaria…
Nos puxa para o alto-mar e nos devolve para a terra…
É uma imensidão de mistérios…
Se descuidarmos, nos afoga e se respeitarmos, nos alimenta…
Leva e traz…
Pode ser raza ou profunda…
Sua beleza consegue atrair, a escuridão é capaz de amedrontar…
Se mantivermos o equilíbrio, temos a sensação de flutuar, caso contrário, a pressão sufocará…
Pode abrigar ou naufragar…
A vida tem que ser como o mar…
Se auto-regenera e persiste em continuar…

Líria   

Xadrez é música clássica

“O Xadrez, como o amor, como a música, tem o poder de fazer os homens felizes.” Siegbert Tarrasch

Se xadrez fosse música seria música erudita
O maestro faz o papel do enxadrista
Enquanto as peças deslizam em harmonia
As cifras vão compondo a sinfonia
Se equivalem na complexa melodia

Ambas formas de arte
Mesclam estilos e variedades
Encantam ouvidos e olhares
Seja na amplitude dos sons
Até nas composições das análises

Se as partidas de Alekhine
Se transformassem em música
Seria de Mozart, a escolhida
A “Pequena Serenata Notura”
Melhor tradução não teria

Tamanha contemplação de seus formatos quadriculados
As cores branco e preto em ambos destacados
Seja nas partituras e suas notas
Seja no tabuleiro mesclado
Ou nos instrumentos de teclado

Há mágica na forma clássica
Da excelência dos concertos
Ou no jogador durante o combate
Alternância de tons e instrumentos
Até o prelúdio para o xeque-mate

Inestimável elegância e formosura
Na postura da regência
Na estrutura das aberturas
Na desenvoltura da ternura pura
Do xadrez ou da música culta

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Sou fria

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Preferi sempre a loucura das paixões à sabedoria da indiferença.Anatole France

Sou frio
Como um cubo de gelo
Nunca fui de outro jeito
E nem o sei como
Permaneço rígido dos pés aos cotovelos
Há fissuras nas pontas dos meus dedos
E rachaduras no coração frígido
Ainda que a menor temperatura esteja nos ombros
Carrego quilos de rigidez e litros de indiferença
Pulo de inverno para outono
E de outono para inverno
O verão nunca chega nesse peito gélido
Sou frio
Tão frio que o meu álgido texto
Causam esfriamento em qualquer pólo
Em qualquer corpo
Em qualquer membro
Assopro frieza em qualquer rosto
Que congela só de eu chegar perto

jan.15

A tempestade

Chegou errôneo                                    Se fez certo
Num dilúvio                              Em calmaria
O mar azul                                   Tornou-se ameno
Em seu olhar bravio                          O mar sereno
Inundou ligeiro                                   Paulatino
Inoportuno                                   Deságua
Alagou repentino                            Na voz tranquila
Deixou agitado                                   Anuncia
O meu peito turvo                                  Abrigo
Afundou meu passado                      Soprou a brisa

Se impôs futuro                   Seu cabelo cinza
O presente                                  Dissipa a ventania
Com seu aspecto                                    Aquieta
Mais profundo                                   Desalento
Mergulhou                                     O marinheiro
O marinheiro                                     Navega
Em devaneios                                  No meu sentido
Sonhos                                     Um sentimento
A tempestade                                       Desatino
Encharcou                                      O abraço esgueio
Seu mento ruivo                             Seu carinho
Em um beijo                          Em mais um beijo

Líria

“Miranda e a Tempestade”
 

“Quem põe ponto final numa paixão com ódio, ou ainda ama, ou não consegue deixar de sofrer” Ouvídio

Mundo em que vivo

“A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.”Fernando Pessoa

 

Neste mundo em que vivo
O caráter foi esquecido
Sentimento é falta de discernimento
E música é para depressivos…

Neste mundo em que vivo
Ler é para melancólicos
Coragem é texto folclórico
E o ceticismo é o objetivo…

Neste mundo em que vivo
A paixão é irreal
Ética é mero opcional
E clichê é pensar positivo…

Neste mundo em que vivo
Alegria é não raciocinar
Ignorância é questionar
Quem cuida é muito esquisito…

Neste mundo em que vivo
Sonhar é brega
Futilidade é meta
Quem chora é fraco de espírito…

Neste mundo em que vivo
O feio tem beleza no coração
Felicidade é apenas contemplação
Ensinam que tudo é relativo…

Neste mundo em que vivo
Ser virtual é ser social
Não se importar é intelectual
Amar não é motivo…

Neste mundo em que vivo
Tudo é absurdo abstrato
Resquícios do passado
Nada faz muito sentido…

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