Pra casar

Ele pergunta se tô pronta

Se eu sei cozinhar

Se a minha massa é boa

Se eu sei lavar louça

Se eu sei lavar roupa

Ele pergunta se eu sou

Um pouco louca

Se eu gosto de crianças

Se eu sei trocar fraldas

Ele me pergunta se eu tenho

Guardado algum trocado

Se em meus sonhos ele surge à noite

Se meu sorriso vive estampado

Se eu estarei sempre ao lado

Ele pergunta se eu sei

Fazer massagem

Se eu acredito em Deus

Se rezo frequentemente

E se eu curto sacanagem

Ocasionalmente

Ele pergunta se eu gosto

Dos seus beijos

Se sinto seu carinho

Se tomo porre de vinho

Ele pergunta se eu escrevo

Se eu sou criativa

Se eu sempre acordo linda

Se eu sou companheira

Se eu estou sempre perfeita

Ele pergunta se eu gosto

De jazz e música clássica

Se tenho cultura

Se eu sou sensata

Ele pergunta se eu sou

Confiável e estável

Se sou um pouco insegura

Se as vezes fico um pouco brava

Ele pergunta se eu

Entendo matemática

Se eu sou inteligente

Se eu sou engraçada

Ele pergunta se tô pronta

Se eu seria boa esposa

Se sou boa pessoa

Se eu não vivo à toa

Ele pergunta sorrindo

“Quer casar comigo? ”

Chega de perguntas

Nem que a vaca tussa

22.out.17

Sobre minha cirurgia de retirada de cisto no ovário

Dois planetas lindos

pequenos, intactos

Flutuando no universo silencioso ao som do ohm…

No escuro, estão os dois corpos celestes,

ovários-astros brilhantes

Quando um instrumento cirúrgico, uma flecha de metal

surge de um buraco aberto repentinamente

quebra a porta, entra sem bater, sem carinho

escancara e deixa a luz entrar

Dois corações assustados, retrocedem, murcham

do medo do desconhecido apavorante

Há um instante de ilusão: será Deus?

Porém, em seu interior

os astros sentem uma dor que embrulha

Pedem proteção mas todo o resto do corpo-cosmo

está adormecido, anestesiado

A ponta afiada olha para um aparelho reprodutor

e depois para o outro e escolhe o direito

Não, escolhe o esquerdo, o errante, o medroso

Aquele outrora fora criativo e intuitivo

Carrega agora um sentimento peludo incrustado

difícil de desemaranhar e decifrar

Todavia quando desencravado é pelo que não cabe mais

O planeta-ovário-engano tem apego

pelo sentimento cabeloso e cabuloso

A atração gravitacional é forte e demora a soltar

Contudo acaba esparramando conteúdo-pelo no espaço

O instrumento-sol retira tudo

Como um buraco negro suga e esteriliza

Lava, limpa e não deixa nada para trás

A estrela procura mais feridas e as localiza

Joga fora toda dor-insegurança,

todo pelo-medo, toda ferida-angustia

E coloca num saquinho de barris,

os barris que já não são mais necessários

Aquele aparato-flecha-estrela

assustadora passa a se tornar parte do sistema

Constelações de estrelas-amor

E assim o outro corpo celeste, o direito,

começa a relaxar e aceitar a intervenção

Deixou-se abrir, limpar com tranquilidade

Estendeu as mãos, fechou os olhos

e entregou-se ao amor-sol

Toda energia e matéria obscura foram sendo absorvidas

O hematoma-tristeza e os padrões-lesões limitantes

Do comportamento infantil ao ferimento-estima baixa

Chega o momento em que a Divindade termina a faxina

queima tudo e fecha todos as cicatrizes,

passagens de sentimentos ruins

e pensamentos pútridos acumulados

Ele-Deus vai se esvaindo e retorna levando a luz

e fecha aquela abertura fatídica

Até que tudo volte a ser som violino escuridão

Flutuando na imensidão do espaço

Dançando novamente

os corações-ovários-astros no salão opaco

felizes novamente

Saboreiam mudos o ruído ohm…

o gosto do universo e do mistério

do fruto disponível

A vida agora é possível

dez.20

Me perdi nos teus tons

Me perdi nos teus sons

Tuas palavras quentes e sérias

Me perdi nas tuas lindas cores

Laranja goiaba madura e orgânica

Me perdi no seu brilho

Sorriso cintilante colgate

Me perdi em nossos pensamentos

Vazios preenchidos de sentimentos sem filtro

Me perdi na mata

Galho do seu pescoço

Tronco do seu peito

Raiz das tuas pernas entrelaçadas

Me perdi na seiva

Vaso condutor

Líquido que escorre de minha boca e chega ao coração

E em toda verdade que dela fluía

Me perdi em nosso beijo

Ameixa doce do pé

Sabor amargo adocicado

Carregada de flores

Me perdi em você

Fruta madura e sedutora

Dente de leão apaixonante

Me perdi no sopro da sua semente

nov.17

Para Deco. Para, Deco!

Ei menino do jeans rasgado
Cansei de ouvir os teus ais
O que tanto tem te perturbado?
Reclama de infortúnios e lástimas
Chega de suplícios e angústias
Você nem sabe o que são lágrimas

Menino, pare de dizer que é desafortunado
Desgraçado é aquele que não tem graça
E essa sua máscara me faz
Perder o ar de tanto gargalhar
Sofrimento é ser miserável
Prefere a felicidade da ignorância
Ou a ânsia de ser solitário
Pela busca incansável da verdade?

Jeans, levanta essa calça
Amarra esse cadarço 
Desse allstar esfarrapado
Você sofreu no máximo
Por uma ou duas paixões
O que é uma escavação no pulmão
Perto de lepra ou aids
Perto de um coração enclausurado
Libere-se de seus vícios
Deixe essa masturbação filosófica
Para que tanta rebeldia sem causa?

Você não é mais um menino
Costure esse jeans ou afrouxe o rasgo
Corte a barba balbo
Ou deixe o cabelo crescer
Indiferente. Contanto
Que comece a conceber seu feito
Pode escrever, perto de você
Seus antecessores eram leigos
E seus sucessores irão te bendizer

Do jeans rasgado,
O menino precisa se libertar
Ele não é um buraco escuro
A vagar sem fim
Mas uma estrela a brilhar
Mostre pra mim, pro mundo e
Para os meninos de jeans rasgado
Que você é um legítimo rock star

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Ele e eu

deus_eu

A descrição é inútil
Não ilustra
A cor do sol
Amarelo luzindo
Céu azul cintilando
O som das águas caindo
As gotas espirrando
O frescor ventando
O tom das pedras
Esculpindo o caminho

O retrato é estático
Não captura
A essência das flores
A beleza das borboletas
O bater de asas dos passarinhos
Dos mosquitos, das abelhas
A distância da cachoeira
Quilômetros percorridos
Nem os arranhões da natureza
E os obstáculos vencidos

A lente é fútil
Distorce o movimento
Em tudo há um motivo
Perfeito argumento
Equilíbrio
Seja zunindo, rastejando, caçando,
Construindo o ninho,
Soprando, assobiando, voando,
Esperando,
Ou seguindo

Ora água, ar
Ora árvore, terra
Ora mãe, pai
Ora energia, vida
Ora mutável, efêmera
Ora amigo, espírito
Ora eterno, infinito
Sempre comigo
Ele e eu
Deus

Oração

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Não mereço seu modo de agir
Por tudo o que vivi
Para justificar nada fiz
Por que comigo atuas assim?

Em tempo, ouças meu questionamento
Não faço jus a tal julgamento
Duvido que tenha direito
Porque faz essas coisas aos “sem merecimento”?

Acaso amas os ímpios?
E aos justos como presenteias?

Sou ovelha perdida
O pecado fiz e dele vim
Mas nunca desististes de mim
Por que comigo atuas assim?

Na escuridão cheia de dor
Estive em padecimento
Curaste-me com teu amor
Por que faz essas coisas aos “sem merecimento”?

Acaso amas os ímpios?
Pois estás sempre comigo
E aos justos como presenteias,
Pois me presenteias com anjos em meu caminho?

Agradeço por assim me amar
E por nunca desistir dessa tua filha
Pela graça de tuas dádivas
À tua palavra entrego a minha vida

Líria 19/set/15

Dúvidas

“Que seja doce a dúvida a quem a verdade pode fazer mal. ” Michelangelo


Quem não carrega dúvidas em seu íntimo? Dúvidas causam-me demasiada angústia pela necessidade de ter de solucioná-las, ou seja, tomar uma decisão! Mas o problema consiste no moroso e exaustivo método que utilizo para resolver os meus questionamentos. O método é simples.



[A princípio, reconhecer a questão a ser respondida. “Ser ou não ser? ”, “Ir ou não ir? ”, “Querer ou não querer”. Diante disso, ficar ansioso (a). Em seguida, identificar todas as possibilidades. No momento seguinte fica tenso (a). Quanto mais complexa for a dúvida ou a escolha que tenha que se fazer, deve-se aumentar o desespero e a confusão mental. Na fase posterior, calcular todos os cenários de todas as possibilidades, separando por critérios, ordenando por valores, filtrando por juízos, priorizando por razoabilidade, etc. e reticências…. Na sequência ficar mais apreensivo (a) pelas intermináveis opções a serem minuciosamente analisadas. Por fim, escolher a opção errada. ] Anotou?

O conceito de infinitas possibilidades é supervalorizado em nossa sociedade. Se você tem muitas opções de estudo, muitas oportunidades de emprego, muitas possibilidades de lazer, muitas perspectivas de relacionamentos, você realmente está bem na fita! Para mim ao contrário, o volume excessivo de alternativas me deixa angustiada também excessivamente. Primeiro, porque quanto maior o volume de potencialidades, menor a chance de acerto e segundo porque elas acarretam de uma dúvida em sua origem.

 “Aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, pois tem mente dividida e é instável em tudo que faz. ” Tiago 1.6-8

 “Essa experiência da dúvida (…) faz a gente se sentir assim de um lado para o outro, no meio de uma tempestade, sendo arremessado para vários caminhos (…). A gente não consegue a integridade, o caminho, a linha para seguir (…). Estamos perdidos e para quem está perdido todos os caminhos são possíveis e viáveis. (…) A dúvida só vai aumentar as possibilidades, só lhe vai acrescentar variantes, outras possibilidades (…). A mente dividida (…) não consegue saber para onde vai. (…) A integridade ela é exatamente a unidade da mente, é a mente unificada, é a mente que encontra o caminho, é a mente que sabe onde tem que chegar, sabe para onde tem que ir. Tiago está apelando para a unidade da mente, da alma, para a unidade das nossas escolhas, da nossa decisão, do que a gente precisa fazer ou simplesmente não fazer. ” Pr. Jonas Madureira.

A explicação de Jonas sobre essa passagem de Tiago fez muito sentido para mim! A indecisão nos deixa agitados, sem caminhos, perdidos à deriva das ondas, onde todos os caminhos são possíveis.

Comecei a pensar que se eu diminuísse meu leque de escolhas, a chance de acerto aumentaria. De fato, a dubiedade acaba confundindo por alternativas ilusórias, deixando de perceber o essencial, o caminho viável. 

Quando não há mais probabilidades, o único caminho possível se torna também o melhor caminho. Imagine que você esteja num momento em que não sobra tempo para descansar. Sentindo isso, o seu corpo passa a funcionar mal até que a sua imunidade caia e você pegue uma gripe que te derruba. Não há mais chance de continuar na rotina desequilibrada, a única possibilidade neste caso é ficar de cama descansando até a gripe passar. Imagine o momento em que a água potável estiver restrita no mundo, a única e melhor opção será recuperar nossos rios. Portanto, quando não há mais possibilidades ou elas são escassas escolhemos a melhor alternativa.

Por isso em épocas de crise a humanidade evolui, porque as possibilidades diminuem e os homens são quase obrigados a escolher a melhor solução para se manterem vivos. Mas precisamos chegar a esse nível para nos desenvolvermos?

A incerteza leva à diversas possibilidades e, portanto, à imprecisão.

Entendi então porque temos regras, lei, condutas, normas, códigos, convenções, mandamentos e valores na humanidade. Se as seguirmos, elas interferem positivamente na diminuição da dúvida e na chance de erro. Elas limitam as diversas possibilidades. Elas tornam claro o caminho a ser percorrido. Neste caso, a dúvida passa a ser uma certeza e a possibilidade se torna uma realidade.

Para Jonas, a certeza só vem com a fé. A fé neste contexto cotidiano, nada mais é que a confiança na verdade, na certeza, no que é íntegro, inteiro. Este é o novo método. Quando não há dúvida, não elaboramos diversas possibilidades pois há somente um caminho a ser seguido, somente uma certeza, uma verdade.

Saudade daquela cidade

Essa eu fiz na minha infância em homenagem a cidade mineira Paraguaçu.

Saudade da Lua
Que iluminava aquela cidade
Saudade do queijo, da feijoada
Saudade da tia, do ferro de brasa

Saudade da água
Que jorrava do chafariz da praça
Saudade do sino da igreja
Que a toda hora tocava

Saudade das cores
Saudade do perfume das flores da praça
Saudade da criançada
Se enchendo de graça

Saudade da praça
Encontro de alegria, sedução
Onde nosso coração ficava
Aberto para qualquer sensação

Saudade da melodia que vinha do coreto
Saudade dos sonetos de alegria,
Esqueletos de músicas
Naquele ambiente sereno

Saudade do calor
Que quase não se suportava
Saudade do rio
Das ventadas no frio

Saudade das palavras que me faziam indecisa
Nos bailes da cidade
Na dança que me atraía feito um imã
E do som que me decidia

Saudade da rua
Par as crianças uma casa
Onde tudo era amizade e a tristeza era nula
E onde só se divertia e brincava

Saudade dessa mesma rua
Onde na madrugada os jovens voltam para suas casas
Saudade desses jovens
Que antes só bebiam água

Saudade do velho da casa
Da frente, mal assombrada.
Saudade dos seus gritos
Que eram motivos de risadas e arrepios

Saudade do sorvete
Que ainda tem o mesmo gosto
Saudade da senhora e suas alegres lágrimas
Que continuam a molhar o seu rosto

Saudade da terra
Que virava bolo na cozinha
Saudade da grama, das árvores.
Verdes e límpidas.

Saudade do grilo
Que à noite não nos deixava, do seu cri-cri
Saudade do milho, das frutas.
E das histórias de mula e saci

Saudade do violão
Que a noite toda tocava, da cantoria, da canção.
Saudade das vozes
Que cantavam músicas do coração

Saudade de ser querida
Saudade de lá
Saudade da minha vida
Naquela cidadezinha…

Líria

Estrela da manhã 

“É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela”. Friedrich Nietzsche
“Eu lhe darei a mesma autoridade que recebi de meu Pai. Também lhe darei a estrela da manhã” Apocalipse 2.28


A vida é árdua

A paz é improvável

O tempo é intransigente

O caminho é inexorável

O sofrimento é inerente

A luta é inquestionável

As escolhas são morosas

A fé é inevitável

O futuro é incerto

A felicidade é indubitável…

Líria.mai15